Entendemos que para cuidar do
ambiente em que vivemos, é preciso formarmos cidadãos saudáveis que
compreendam a sua própria história e se sintam agentes capazes de transformar a
realidade em que vivem.
E como descobrir a realidade a
ponto de querer muda-la? A ludicidade, nas propostas para a educação infantil, garante
a compreensão da complexa teia de conhecimentos necessários para transformarmos
a escola, a família e a comunidade em espaços mais sustentáveis em que a saúde
de seus membros seja preservada.
Considerando a transversalidade
de nossos projetos é impossível descrever as ações do Projeto “De onde vem,
para onde vai?” sem relacioná-las com nossas figuras de afeto: Azizi e Sofia,
os espantalhos da horta, trabalhadas pelo Projeto “Diversidade Biológica e
Cultural”.
Isto é transversalidade! Quando
não conseguimos separar conhecimentos em caixinhas ou listas. É trabalharmos
tudo, ao mesmo tempo, junto e misturado a tal ponto que seja impossível desvincular
a construção de saberes e fazeres.
Nosso projeto “De onde vem? Para
onde vai?” utiliza a Horta como estratégia pedagógica para discutir questões
fundamentais do cuidado com a natureza, mas não se resume ao plantio e a
colheita de hortaliças. Se, inicialmente pensávamos em introduzir alimentos
saudáveis ao cardápio de nossas crianças, este objetivo passou a ser apenas
mais um, entre outros tantos que fomos descobrindo possíveis, durante os
processos de trabalho.
Além de conceitos e de
procedimentos específicos para a manutenção da horta, aprendemos e ensinamos,
introduzimos hábitos, possibilitamos atitudes e iniciativas, formamos valores
essenciais para uma vida saudável e coletiva.
No início do ano as crianças
foram convidadas a explorar a horta. Encontraram tomates, melancia, feijão e um
grande mistério. Como tudo isso nasceu em nossos canteiros se não havia ninguém
na escola durante as férias?
Ouvimos atentamente as falas
infantis e pautamos nosso trabalho na confirmação, ou não, das hipóteses
levantadas pelas crianças.
Colocamos em nossos canteiros
algumas placas de captura e descobrimos quais eram os visitantes da nossa
horta. Conhecemos os agentes polinizadores que foram objeto de estudo nas
diferentes turmas: Borboletas, abelhas, joaninhas e morcegos.
Paralelamente ao estudo dos
insetos e dos processos naturais de polinização, começamos a traçar alguns
pontos de intersecção com a gravidez de Sofia. Falamos de machos e fêmeas,
homens e mulheres e os processos de reprodução naturais e artificiais.
Durante o período intermediário, descobrimos
como nascem os visitantes da nossa horta e no período da manhã e tarde, como
nascem os bebês.
Se por um lado eram necessários
os cuidados médicos para uma gestação saudável, como seriam combatidos os
insetos invasores que impedem o crescimento saudável de nossas hortaliças?
Aprendemos sobre as ações do homem sobre a natureza e o uso de agrotóxicos.
Deduzimos que as joaninhas não dariam conta de comer todos os pulgões de uma
grande plantação. Um grande problema que os engenheiros agrônomos estudam para
resolver.
Acompanhamos a gravidez e o
desenvolvimento dos bebês ao mesmo tempo em que plantamos as primeiras mudas de
alface e as vimos crescer.
Traçamos um paralelo sobre os cuidados
com os bebês da alface e os gêmeos de Azizi e Sofia e o que ambos precisam para
crescer saudáveis.
Através do olhar investigativo de
nossas crianças, descobrimos ovos de borboletas e os óvulos da mamãe. E o que
falar do nosso grande espanto quando vimos “brotar” borboletas em nossa horta e
achamos o “clube das lagartas”?
Aprendemos sobre alguns artistas
que retratam a vida no campo e fizemos as nossas próprias obras sobre o tema.
Após a leitura do livro “A Horta
do Vovô Manduca” que, além de retratar a vida de uma família e sua relação com a
horta, possibilitou-nos estudar o ciclo da vida das plantas do nascimento à
morte e fomos além, claro, pesquisando com quem o avô, do avô do avô do Vovô
Manduca aprendeu a plantar. Revelou-se o continente africano e as contribuições
do povo egípcio para a humanidade.
Neste ambiente instigante e propício
à construção de conhecimentos, criamos receitas com rúcula, almeirão, alface e
couve que foram compartilhadas com as famílias em momentos muito especiais.
Qual não foi nosso espanto quando
adultos e crianças aprenderam que as hortaliças florescem? Acompanhar o
surgimento da flor da alface e dos tomates foi uma grande aventura, além de
descobrirmos de onde vêm as sementes.
No mês de junho, ao mesmo tempo
em que surgia a incubadora para os gêmeos, construímos a nossa estufa ou “casa
das plantas” como as crianças preferem chamar.
Reproduzimos em nossos canteiros,
o processo natural de produção, misturando o plantio de folhas e raízes que nos
ajudarão a descobrir a diferença entre elas em nossa alimentação.
A partir deste mês de agosto,
outras propostas surgirão, entre elas: Compostagem/Reciclagem (para onde vai?),
Horta Maluca (produtos degradáveis/não degradáveis), influência da mídia na alimentação
do bebê e da criança, a escola e a família perpetuando o Consumismo (trabalho
com as famílias para o Dia das Crianças), entre outros.
Trabalharemos temas para ampliar
o repertório de todos os envolvidos com objetivo de responder, ao final do ano,
algumas questões, entre elas: Que mundo queremos deixar para Dayo, Henrique e
as crianças? E o que podemos fazer para transformar a EMEI Guia Lopes em uma
escola mais sustentável?
Temos um longo e prazeroso
trajeto.... então, vamos lá!
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