O INÍCIO DO PROJETO
No final do ano passado, após a cerimônia de união entre Azizi e
Sofia e do regresso do casal à escola, nossas crianças foram categóricas
em afirmar que havia uma gravidez em curso. Esta não foi a primeira vez que
percebemos a curiosidade infantil sobre este assunto. Acreditamos que a gravidez é um evento muito próximo de sua
realidade, senão pelo próprio nascimento, mas porque a possibilidade de acompanharem uma nova gravidez de suas mamães seja um mistério que envolve
sentimentos controversos e que precisam de atenção.
Todos os desafios que instigam nossas crianças são feitos através
de cartas enviadas por nossas figuras de afeto. Na primeira carta que recebemos
Azizi e Sofia transferiram para as crianças a responsabilidade de escolherem um
nome para seu bebê. Diante desta situação, começamos os processos de escolha.
Em um determinado momento descobrimos que não seria possível
escolher nomes se não sabíamos o sexo e o número de bebês que Sofia estava
esperando. Como há quatro anos, as crianças decidiram os rumos desta história,
optando por gêmeos, o que foi confirmado através do exame de ultrassom que
fizeram, mas e o sexo?
Criou-se a oportunidade certa para enviarmos pesquisas para as
famílias, questionando-as sobre como saber o sexo do bebê se eles ainda não
tinham nascido. No dia seguinte, muitas informações foram enviadas pela escola.
Exames de ultrassom circularam pelas mãos orgulhosas de nossas crianças e, é
claro, a solução estava dada: “Sofia tem que fazer o exame para sabermos o sexo
dos bebês”.
Sem dúvida, nosso primeiro
objetivo foi alcançado: crianças e pais conversando sobre o nascimento de seus
filhos.
Listas de materiais necessários foram sendo construídas e a escola
iniciou a organização da “maternidade”.
Eram tantas as informações
que o ultrassom passou a
ser, apenas, um detalhe diante todos os cuidados
necessários: o Pré-Natal. Exames de sangue, medição da pressão, peso, tamanho
da barriga estão sendo ótimas oportunidades para o trabalho com noções
matemáticas.
Nossos médicos de plantão realizaram o exame e foi possível identificar o sexo dos
bebês. Sofia e Azizi terão uma menina e
um menino, confirmando, portanto, o desejo da grande maioria.
Durante as rodas de conversa que aconteciam em todos os grupos, os
nomes dos órgãos genitais foram surgindo: “Perereca”, “florzinha”, “pombinha”,
“pintinho”, entre outros tantos. Chegava a hora de nomeá-los, cientificamente.
A descoberta das palavras “vagina e pênis” foi um dos conhecimentos que
propiciamos.
Logo após o exame, alguns amigos e familiares de Azizi começaram a
enviar cartas, demonstrando suas inquietações.
Nessas correspondências deixavam clara a importância de escolherem os
nomes dos bebês seguindo algumas tradições africanas. É aqui que começaremos a
trabalhar a cultura africana e afro-brasileira através da identidade de nossas crianças. Como será o ritual de
escolha de nomes em algumas nações do continente africano? Paralelamente,
iniciamos o trabalho com a árvore genealógica das figuras de afeto para
adubarmos o terreno fértil da infância com provocações que tratam da
hereditariedade e a melanina na definição das características físicas de todos
nós.